quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Dica, truques e cheats (bem atrasado)
A literatura explora muitos campos, mas em geral explora o horizonte do prazer e do amor. Contudo, existe uma vertente que se embasa justamente no contrário, é a literatura do incômodo. Alguns escritores buscam inspiração e trabalham textos que torna a leitura arrastada, ou simplesmente um cotidiano que não demonstra uma evolução palpável. Podemos perceber essa aparente estagnação bem marcadas em dois textos curtos, mas muito interessantes, são eles "Paraísos Artificiais" de Paulo Henrique Britto, que narra a saga por uma posição que seja um pouco mais confortável que a anterior ao sentar-se em uma cadeira, quase um texto metafísico sobre o tema e bastante interessante por sinal. O segundo texto é "Conto (não conto)" de Sérgio Sant'Anna, que constrói e desconstrói a todo momento sua narrativa, de forma muito intrigante e interessante.
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Quem é quem?
Uma narrativa em geral, gira em torno de dois polos, de um lado temos o protagonista que é a estrela e o foco do texto. No outro extremo temos o antagonista, aquele que se opõe ao protagonista. Não necessariamente são a personificação do bem e do mal, mas em geral essa visão facilita bastante na hora da escrita e já traz um "background", ou seja um dado histórico das personagens, que pode ajudar a trazer coerência nas ações e pensamentos deles ao longo da obra, e depois temos os coadjuvantes, que se agrupam entre as possibilidades, ou de forma neutra ao longo do texto. A composição de uma personagem é tão importante quanto a composição de todo o cenário que o cerca, quantos filmes já não condenamos por terem estes mudando de alinhamento sem qualquer motivo, ou que são incoerentes se compararmos com ele mesmo no início de um livro e não termos uma explicação para isso, pode ser frustrante ter um texto muito bom, mas com aqueles que fazem as ações ou sofrem as consequências de uma, agindo como se estivessem numa novela. Quanto maior a densidade do que se escreve, mais se necessita de personagens coerentes. Uma boa saída é fazer um check list de de cada personagem central e um menos detalhado para os secundários, para evitar que haja furos de ações ou julgamentos, e nem é necessário infundi-los no corpo da obra, essa lista será um guia para as decisões de enredo que precisam ser revistas no andamento da escrita, e também evita que seja preciso recorrer a releitura sempre que uma situação parecida com uma já ocorrida aparecer.
Vamos organizar agora, e podemos usar uma sequência de filmes para auxiliar neste momento, nos três primeiros filmes da cosmologia "Indiana Jones", temos uma evolução de Dr. Jones bastante clara e ainda a manutenção de algumas características originais, como o chicote e o seu pavor inconsciente de cobras. Mas no filme mais atual, temos algumas situações até cômicas, mas que não seguem a linha dos primeiros longas, como por exemplo, Dr. Jones se escondendo em uma geladeira para escapar de uma explosão nuclear, que até o exército americano verificou e descartou a hipótese de isso dar certo. Mais uma vez, os personagens dificilmente mudam de conduta em obras literárias.
Sim, pode acontecer uma inversão de papéis, mas não funcionaria muito bem se isso fosse recorrente ou acontecesse de forma muito brusca, pois corre-se o risco de frustrar o leitor. Peguemos outro exemplo, no livro "Ivanhoé", Auterstain, tio do protagonista, morre em uma batalha decisiva do texto e retorna no último capítulo, e por que isso acontece? Nesta situação em específico foi uma comoção entre os leitores que obrigou o autor a rever essa situação, mesmo assim, ele reviveu a personagem mas sem alterar o seu falecimento em batalha, ele apenas acrescentou uma órfão na obra com a reparação de que Auterstain caíra em profunda inconsciência e acordou no meio do velório. Funcionou muito bem no contexto da obra, e assim ainda ressaltou o profundo senso de superstição do período medieval, mas, de modo geral, quando ocorre uma ação contrária ao alinhamento de um personagem ou uma situação que não pode ser assimilado pelo cosmos da obra, existe uma quebra de verossimilhança, ou seja, é como se Deus saísse de férias e o caos tomasse conta da narrativa.
Outra forma de manter um certo equilíbrio é não apenas abordar pontos positivos, mas também os negativos das personagens, defeitos aproximam mais os leitores, por criar uma identificação com os mesmos, neste mundo a perfeição é rara ou inexistente, e se pegamos um livro no qual isso acontece com frequência nosso próprio inconsciente cria uma zona de desconforto com relação ao texto. Não tenha medo de colocar um ou dois defeitos nos protagonistas, antagonistas e coadjuvantes, pois isso pode servir até como uma ferramenta mais adiante.
Por enquanto é só, voltarei a este extenso assunto sobre os personagens para trabalhar outras coisas, como por exemplo, os arquétipos presentes na literatura.
Inté...
Vamos organizar agora, e podemos usar uma sequência de filmes para auxiliar neste momento, nos três primeiros filmes da cosmologia "Indiana Jones", temos uma evolução de Dr. Jones bastante clara e ainda a manutenção de algumas características originais, como o chicote e o seu pavor inconsciente de cobras. Mas no filme mais atual, temos algumas situações até cômicas, mas que não seguem a linha dos primeiros longas, como por exemplo, Dr. Jones se escondendo em uma geladeira para escapar de uma explosão nuclear, que até o exército americano verificou e descartou a hipótese de isso dar certo. Mais uma vez, os personagens dificilmente mudam de conduta em obras literárias.
Sim, pode acontecer uma inversão de papéis, mas não funcionaria muito bem se isso fosse recorrente ou acontecesse de forma muito brusca, pois corre-se o risco de frustrar o leitor. Peguemos outro exemplo, no livro "Ivanhoé", Auterstain, tio do protagonista, morre em uma batalha decisiva do texto e retorna no último capítulo, e por que isso acontece? Nesta situação em específico foi uma comoção entre os leitores que obrigou o autor a rever essa situação, mesmo assim, ele reviveu a personagem mas sem alterar o seu falecimento em batalha, ele apenas acrescentou uma órfão na obra com a reparação de que Auterstain caíra em profunda inconsciência e acordou no meio do velório. Funcionou muito bem no contexto da obra, e assim ainda ressaltou o profundo senso de superstição do período medieval, mas, de modo geral, quando ocorre uma ação contrária ao alinhamento de um personagem ou uma situação que não pode ser assimilado pelo cosmos da obra, existe uma quebra de verossimilhança, ou seja, é como se Deus saísse de férias e o caos tomasse conta da narrativa.
Outra forma de manter um certo equilíbrio é não apenas abordar pontos positivos, mas também os negativos das personagens, defeitos aproximam mais os leitores, por criar uma identificação com os mesmos, neste mundo a perfeição é rara ou inexistente, e se pegamos um livro no qual isso acontece com frequência nosso próprio inconsciente cria uma zona de desconforto com relação ao texto. Não tenha medo de colocar um ou dois defeitos nos protagonistas, antagonistas e coadjuvantes, pois isso pode servir até como uma ferramenta mais adiante.
Por enquanto é só, voltarei a este extenso assunto sobre os personagens para trabalhar outras coisas, como por exemplo, os arquétipos presentes na literatura.
Inté...
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Dica, truques e cheats
Desta vez exigirei um pouquinho mais de você que lê este post, pois farei uma divagação a princípio solta, mas que, ao final será bem entendida. Vou falar do "fio solto" ou "órfão" dentro dos textos. Mas o que é isso? Essa situação ocorre quando o autor, por um pequeno deslize (mas nem sempre), deixa um situação sem conclusão ou um personagem abandonado. Poderia fazer uma rede enorme de possibilidades para isso acontecer, mas, é certo que isso gera estranheza quando ocorre. As vezes passa desapercebido, como por exemplo, o elfo morto no livro "Silmarillion" do grande Tolkien é quem salva Frodo no "SdA A Sociedade do Anel" história que ocorre muito tempo depois da primeira sitada, e poucas pessoas questionam, mas em outros casos, trata-se o autor como inábil na arte de criar textos longos. Existe também quem trabalha magistralmente com essa situação, usando-a em prol do texto. Dois grandes nomes que se valem este recurso são Tom Clancy, já falecido, e Frederick Forsyth. Ambos partem deste órfão para suas grandes narrativas, e só dando o desfecho deles ao fim dos livros, o que pode configurar, na verdade, uma espécie de brincadeira com a teoria do caos, um bater de asas aqui, pode gerar toda uma série de eventos imprevisíveis. E apenas para variar um pouquinho, deixarei a indicação de dois livros, que não podem faltar em seu repertório de leitura, são eles: "Caçada ao Outubro Vermelho" de Clancy, e "A Alternativa do Diabo" de Forsyth. Ótimos livros, sendo que o primeiro deu origem a um ótimo filme de mesmo nome. Então, às páginas.
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Apenas mais um dia de trabalho
Por Antônio Carlos Pereira
O
tempo estava diferente naquela noite de inverno, já o clima, como o
esperado, mas a noite clara com a lua nova tão fina quanto um
sorriso feminino era incomum de ser visto, e que acentuava bastante a
sensação de frio no Sul. Seria muito convidativo sentar em um
tronco caído de árvore e observar esse andar da lua despreocupada
pelo céu, mas em Três Saltos ninguém o podia fazê-lo, o trabalho
vinha em primeiro lugar. A satisfação, se possível tinha que vir
rápida, arrebatadora e facilmente superável, e com Susana não era
diferente, seu trabalho exigia o máximo de atenção e cuidado,
deixar marcas perceptíveis era uma coisa que largara no passado
muito distante, quando começou a fazer o que ninguém mais queria ou
ousava, era preciso ter estômago forte, muito amor-próprio e sangue
frio para executá-lo.
Neste
momento, ao ver a cancela de seu destino, ela ainda se encontrava
abalada, a vontade de “perder” uma jornada de trabalho a
incomodava, a noite era muito agradável e em mais ou menos 30 anos vira no máximo
dez noites dessa, todavia, a sua consciência mangava “está
ficando velha meu amor”. Sacudiu a cabeça e voltou a prestar
atenção na manobra, o carro não era um modelo popular, esbarrar em
algo no momento da baliza só fortaleceria a vontade de voltar para
casa e abrir uma boa garrafa de vinho, se sentar à janela com a
caixa de recordações para tingir de novo as lembranças desbotadas.
Era simples, pisar, engatar, pisar com o outro pé olhando para todos
os lados possíveis até a marca amarela desaparecer da vista atrás
do porta-malas, fazia esse exercício ao fundo da garagem a cada 48
horas, independente do clima ou da época do ano, mais uma vez, era
preciso ter fibra para estacionar e entrar no prédio, ela encarava o
que mais ninguém se sujeitava a fazer, seus amigos mais próximos
não apareciam a meses, pais já “estavam num lugar melhor”,
embora esse termo só usasse em momentos de solidão o para si mesma,
poucas pessoas dividiam seu cotidiano, e via uma infinidade de
pessoas de todos os gêneros, idades, orientações e credos durante
o trabalho, em geral pouco comunicativos e na “horizontal”. O que
para sociedade era um barco naufragando a braçadas largas no
Triângulo das Bermudas, para ela era uma forma de manter as contas
em dia, afinal, a solidão refinava o gosto, o que por sua vez,
aumentava os custos ao fim do mês.
Era
hora de desligar o motor, sair e trancar o carro. Já era conhecida
e, por isso, a sua demora em sair do carro poderia dar uma má
impressão, não se importava se os outros pensariam que ela
estivesse sendo assaltada, ou não estivesse passando bem, sua
preocupação era não passar insegurança, isso era mortal nos seus
afazeres e logo se espalharia como o vírus da gripe, e mortal como o
ebola. Mais uma vez, mecânica, saiu do carro, bateu a porta e
trancou, verificou se trancara corretamente e começou a andar,
passou pelo vigia do estacionamento e cumprimentou fria e séria como
sempre, mas ao que parece, uma mulher fria, séria, aos 34, era tão
algo magnético como um super ímã, pois mesmo sem olhar para trás
sentia os olhos do homem a lhe seguir, isso a desconcertava sempre ao
ponto de perder o jeito de andar, mesmo assim seus cabelos negros
longos e bem cuidas tornavam esse desarranjo ao andar bem menos
perceptível, mais uma vez se lembrou que a insegurança é igual a
morte profissional, passou pela portaria do prédio, cumprimento
friamente o porteiro, olhou-o nos olhos e viu o complemento da frase
dita pelo homem através das pupilas do dele:
–
Boa noite senhor Gustavo, tudo calmo hoje? A voz de Susana, soava
metálica e sem emoção aos próprios ouvidos.
-
Boa, tudo beleza, e que lua... Mas no lugar das reticências que
morre ao fim da frase do porteiro, ela pode ouvir o prolongamento da
fala, “e que lua ' rainha do gelo '”.
Era
assim nomeada por todos aqueles que participavam do seu “dia a dia”
do necrotério, ouvia os bochichos nos corredores, alguns se calavam
quando ela passava, outros continuavam como se não a tivessem visto
e isso no fundo a magoava, não era um autômato ou frígida
socialmente, era apenas um mecanismo de defesa que gostaria um dia de
romper e sentir-se como uma semente que eclode do solo em busca do
sol e do ar livre, mas agora era hora de trabalhar e não de sonhar.
Passou pelo saguão ainda cumprimentando mecanicamente e
sistematicamente até chegar ao balção principal, para finalmente
ter uma conversa sem reservas com a secretária da noite.
–
Boa noite Carhisma, já viu a lua essa noite?
–
Não dout...
–
Um hum, pigarreou a legista.
–
Não Sue, assim que tiver terminado meu jantar eu vou dar uma
olhada. A face de Carhisma levemente ruborizada enterneceu Susana.
–
Ok, daqui a pouco então.
–
Não 'pera, tem alguém….
Doutora
Susana de Andrade Werther, não conseguiu captar a voz da amiga, além
de já ter começado a andar rumo ao vestiário para se trocar, sua
mente já estava a quilômetros da realidade. Por que aquele apreço
por uma menina que só estava ali para pagar a faculdade e passar
pelos mais estranhos constrangimentos sociais possível? Se via nela?
Não, a via como filha, a ideia sobressaltou Sue, não se via como
mãe, teria de abrir mão de muita coisa e ainda não estava
preparada, nunca estaria. Além do mais era necessário primeiro
romper a concha social na qual se protegia, era preciso ter um
relacionamento e…. Disseram certa vez, que só os médicos poderiam
entender a rotina de outros médicos, seguindo esse fluxo, começou a
se encontrar com um ginecologista, e quem poderia entender mais de
mulheres médicas do que um doutor ginecologista? Mas arrependeu-se,
não que ele não a entendeu, só tinha uns desejos que para ela
estranhos que passaram longe de agradá-la.
Interrompeu
o fluxo, era hora de trabalhar, já havia se trocado da forma
convencional e estranha, como o Superman daquela série bem antiga,
entre na cabine de terno e saia de colam e cueca por cima da calça,
é a pressa “parceiro”, mas para ela era diferente: pare em
frente ao armário desça a saia e sobe a blusa, sobe o macacão azul
e fecha, mas sem capa para ficar presa na porta ou calcinha a mostra,
pelo menos isso já era um alento.
–
O que temos hoje? Humm... -essa frase ritualística sempre marcava o
início do fim de suas horas de pessoa normal.
Era
o momento de ver os formulários e separar o que, ou quem, precisava
ser ter seu laudo pericial primeiro, em geral, as mortes violentas
oriundas de crimes eram os primeiros da fila, enquanto que os
exóticos ficavam por último afinal, temos que fazer a nossa parte
para que a lei ande, caso ela queira. O ritual continuou com a
leitura e voz alta da papelada para que o silêncio se quebrasse,
afinal, é um necrotério e a maioria dos ocupantes não falam.
–
Vynícius Karman, 35 anos, e pelo que vejo foi engasgo, vamos ver a
segunda opção da noite. Senhora X, sem documentos e provável
trauma encefálico, e o terceiro, sem identificação também senhor
Y? Perfurações por provável arma de fogo. Temos um eleito.
Os
instrumentos metodicamente foram organizados como sempre para
agilizar o trabalho, dessa forma a visualização dos instrumentos
cirúrgicos era de forma mental, já fizera isso tantas vezes que
apenas pela localização e peso sabia o que tinha da mão e como
usá-lo. Era a hora da magia. Começaria pelo já estereotipado corte
em Y, uma incisão -TUM!!!! – pancada no metal de algum lugar a sua
esquerda, lâmina sete no chão.
–
O que? A luz piscou rapidamente, enquanto o som abafado de pancada
no metal se dissolveu no ar.
“Calma
Susana, você está sobre grande pressão, não tem nada de
estranho”, não era incomum ouvir sons estranhos ali, o silêncio
em certos setores era tão profundo que o bisturi cortava além de
superfícies das mais diversas, o silêncio constante, só abalado
pelo chiadinho beeemmmm baixxxxiiiinho do “ffffrrrezer”.
Abaixou-se para pegar a ferramenta e limpá-la, isso era incomum a
Susana, instrumentos caindo de sua suave, porém firme mão, voltou
junto à primeira bancada de metal, posicionou-se ainda ansiosa,
posicionou o corpo para -TUDUM!!!!-, e a gaveta M-41 estremeceu em
sua mente. Isso era demais para ela, era hora e ir tomar um café e
deixar essas miragens auditivas descansarem até afundarem no seu
subconsciente e ali permanecerem. Percorreu o caminho mais longo para
a sala de recreação e refeitório, e ao cruzar o saguão viu apenas
a boca de Carhisma se mover, de forma lenta e longa, mas a
articulação pareceu jamais chegar aos tímpanos, percorrer o seu
ouvido médio e interior até se tornar apenas sinais para o seu
cérebro bagunçado no momento. Somente ao chegar no cantinho do café
compreendeu a fala de moça formando ecos de um passado tão longe e
tão perto ao mesmo tempo.
–
Alguém quer me ver? Sua própria voz saia como se percorresse uma
longa tubulação metálica.
–
Doutora Werther, tem um minuto? Preciso conversar com a senhora. A
voz masculina emanada da entrada da saleta a trouxe a realidade, como
quem acorda de um sonho no qual caíra do alto de um prédio bem
grande.
–
Pois não? Se for bem rápido, eu tenho uma noite bem longa pela
frente e não posso me demorar fora do meu postos, novas regras….
–
Acho que seus pacientes não vão se incomodar se houver uns 10
minutos de conversa entre nós, diz o homem, vestido de branco, num
terno bem cortado e sapatos novos, italianos sem dúvidas, a bengala
cor de ébano contrasta com a roupa, o rosto liso e o cabelo grisalho
integravam uma imagem respeitável.
–
Claro, desde que não tente me evangelizar, Sue se espantou com a
própria ironia, não sabia se o a ironia inicial do homem a
contaminou, se foi o sotaque, ou a situação em si, mas estava
levemente inclinada a ouvir o….
–
Seu nome é?
–
Desculpe, Harold, doutor Willian Harold, Traumatologista e ex médico
do exercito inglês.
–
Como?
–
Meu português está errado?
–
Inglês? O que é isso? Se veio por causa da nova política do
governos está no lugar errado meu amigo.
–
Não, eu não vim por isso, vim por saber que era seu turno e que
poderia trocar algumas informações.
–
Eu nem te conheço.
Susana
se avançou violentamente, decidida a chamar a segurança, mas o
homem a interrompeu com a frase:
–
Eu sei o que está lá e é isso que eu quero lhe alertar, tem algo
de muito errado aqui e lá no fundo você sabe, e já sentiu.
–
Doido, só pode ser. Mais uma vez, Sue experimentou o sabor de uma
emoção, essa noite foram tantas que sua boca se tornara ácida em
demasia.
Desorientada,
Susana partiu novamente para seus afazeres e deixar tudo isso de
lado, sabe que lá ninguém entraria sem sua permissão, não
importando o argumento, título ou nacionalidade. Passou tão rápido
que quase nota, mas não de todo, outra figura nova no saguão, outro
homem, alto e com a famosa e chamativa camisa da seleção
brasileira, e só por isso ela o viu, de canto de olho conversando
com Carhisma, estranho, que noite. Ela ouviu seu nome ser chamado
pelo doutor Harold, e o toc-toc da bengala, podia imaginar o porque
de seu uso, os passos dele eram irregulares, talvez um defeito
congênito, acidente, que importância tinha? Depois que entrasse em
seu castelo, a rainha de gelo não poderia ser mais alcançada. A
porta foi atravessada e o auge da bizarrice da noite se manifestou,
gaveta aberta, e o mais estranho era tratar-se da terceira gaveta,
ela conseguiu ver um homem embaixo da prancha segurando
desesperadamente dois braços flácidos que se debatiam e tentavam
arranhar as mangas do terno de seu perto comum, enquanto um outro
homem segurava uma lâmina inox, de dois palmos talvez, fazendo mira.
–
Mierda, asiéndose la cabeza, o se quedará toda la noche.
–
Cara, eu sou da ABIN e não especialista em judô, ou seja lá o que
for.
–
Mas o que significa isso? Susana gofou entre o nervosismo e o
espanto.
–
Isso vai ser difícil de explicar, desculpem me amigos, acho que não
fui tão efetivo em mantê-la ocupada. Harold se voltou para Susana e
disse, sabe aquelas histórias de gente voltando da morte e saindo da
cova para matar mais gente? Pois então, já não é mais ficção.
Um
grunhido sobe, um facão desce, uma cabeça rola, o homem de terno
pragueja, e a Doutora Susana em pouco mais de duas horas perde o
chão, o castelo, e o senso de realidade, em apenas um baque de metal
quando encontra outra superfície de metal, e acorda para o pesadelo,
com o baque oco de uma cabeça no piso, que ainda mexe as mandíbulas
e abre os olhos brancos como a névoa das manhas de Três Saltos.
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Dica, truques e cheats
A narrativa contínua é a mais comum de se encontrar na literatura, mas não é a única. A narrativa pode ser também fragmentada, e desta forma, exige mais esforço do leitor. Não basta apenas ler, é preciso tentar (isso é automático, quando parece existir um buraco ao longo da obra) completar essa falha proposital no andamento textual. Não se engane, não é preguiça da parte de quem escreveu, é uma situação no linear entre o sucesso da narrativa e o fracasso estrondoso. Se duvida que uma narração pode ser "esburacada" e ainda funcionar de maneira magistral, é só procuramos a obra de Caio Fernando Abreu, "Morangos mofados" e "Os Dragões não conhecem o paraíso", são os textos que praticamente representam e embasam essa forma de escrever. Dará um grande trabalho para ler, mas ao fim, sentimo-nos parte do que lemos e ao mesmo tempo, ao longo da leitura, queremos chegar logo à resolução ou clímax do conto. O incomodo também passa a ser um parceiro de leitura, que as vezes atrapalha e as vezes ajuda também, a sensação do incomodo em geral advém de nós mesmos para mostrar que algo está fora do lugar, ora, um cara sentado na sala divagando sobre o seu dragão de estimação não é muito comum, não concordam?
Mais uma vez, retomarei a máxima que postei neste blog, "mais as vezes é menos", e se bem usada, essa formula fragmentada pode ser bastante interessante tanto para quem lê, quanto para quem escreve, e ainda cria um quebra-cabeças.
Mais uma vez, retomarei a máxima que postei neste blog, "mais as vezes é menos", e se bem usada, essa formula fragmentada pode ser bastante interessante tanto para quem lê, quanto para quem escreve, e ainda cria um quebra-cabeças.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
E depois do planejamento?
Após uma reflexão sobre o seu texto, como o mencionado no post sobre o tamanho do texto, passamos para o seguinte passo de relevância idêntica ao passo anterior, a seleção de qual gênero textual utilizar. Cada Tipo textual, engloba uma série de gêneros, e como estamos falando em escrever, os mais citados nesse blog, serão o Tipo "Narrar", e quando for conveniente (e teremos esse momento) o Tipo "Poesia", depois dos Tipos temos os Gêneros, que são infindáveis. Os estudiosos da linguística na Alemanha, certa vez tentaram catalogar todos os gêneros textuais existentes naquele país, e chegaram a incrível marca de 4.000 nomenclaturas. E no que isso importa? Simples, cada gênero tem uma estrutura, e alguns textos podem ser compostos por vários gêneros e subgêneros, dessa forma, ao selecionar uma formula de narrar, você automaticamente estará selecionado pessoas que se sintam a vontade e preparadas para ler essa obra. Mas vamos destrinchar um pouco mais para facilitar a vida:
* Romance: em geral é o mais longo, e pode ou não ter em sua trama principal um relacionamento amoroso problemático. Mas isso nem sempre se verifica, nos dias atuais, muitos livros são classificados como "romance", apenas por terem textos longos. Seria até engraçado se em todos os romances policiais, tivéssemos detetives apaixonados, a nomenclatura ficou, mesmo com a mudança da estrutura.
* Fábula: uma das mais divertidas e rápidas de ler, consiste em narrativas, cujos personagens principais são seres fantásticos personificados, que passam por uma situação no mínimo incomoda, e atingem uma moral ao final. A grosso modo, é uma metáfora ou alegoria para transmitir conhecimentos de valores e sociais.
* Crônica: não temos leões ou garotas nos guarda-roupas, nem Nárnia. Neste gênero, temos uma narrativa simples e casual de fatos torriqueiros, com tom crítico ou humorístico.
* Conto: o conto, é o que o autor chama de conto, não existe uma formula pronta deste texto, pois temos contos de uma página e outros com mais de quarenta. Mas o ponto mais comum que se verifica neste gênero, é uma brusca virada de roteiro (plot twist), que toma de assalto o leitor, em geral ao final da obra.
Além deste citados, existem outros como "crônica narrativa descritiva", a clássica "epopeia", "ensaio", e outros que não abordarei por ora, mas talvez num momento posterior.
Todo esse "show off" de minha parte tem apenas um objetivo, cada tipo e gênero textual tem um público alvo e dessa forma ao selecionar um dos esquema apresentados, estará esperando um tipo de leitor específico. Vamos pegar como exemplo o conto, os contos são amplamente difundidos nos meios acadêmicos por deixarem grande margem de interpretação e por dependerem de grande experiência de vida e informações presente no próprio leitor, e por isso, não seria de se estranhar que no ensino fundamental grande parte dos jovens ali não o entendesse por completo, por outro lado, o romance tem um volume textual maior e pode se dar ao luxo de fornecer mais informações para o leitor, e dessa forma agradando mais aos leitores mais prematuros na arte de entender realmente o que está escrito. Claro, tudo isso é apenas teórico, não uma lei imutável, mas interferirá diretamente no tipo de leitor que você quer atingir.
Desta forma termino esse texto Expositivo enorme.
Até a próxima.
* Romance: em geral é o mais longo, e pode ou não ter em sua trama principal um relacionamento amoroso problemático. Mas isso nem sempre se verifica, nos dias atuais, muitos livros são classificados como "romance", apenas por terem textos longos. Seria até engraçado se em todos os romances policiais, tivéssemos detetives apaixonados, a nomenclatura ficou, mesmo com a mudança da estrutura.
* Fábula: uma das mais divertidas e rápidas de ler, consiste em narrativas, cujos personagens principais são seres fantásticos personificados, que passam por uma situação no mínimo incomoda, e atingem uma moral ao final. A grosso modo, é uma metáfora ou alegoria para transmitir conhecimentos de valores e sociais.
* Crônica: não temos leões ou garotas nos guarda-roupas, nem Nárnia. Neste gênero, temos uma narrativa simples e casual de fatos torriqueiros, com tom crítico ou humorístico.
* Conto: o conto, é o que o autor chama de conto, não existe uma formula pronta deste texto, pois temos contos de uma página e outros com mais de quarenta. Mas o ponto mais comum que se verifica neste gênero, é uma brusca virada de roteiro (plot twist), que toma de assalto o leitor, em geral ao final da obra.
Além deste citados, existem outros como "crônica narrativa descritiva", a clássica "epopeia", "ensaio", e outros que não abordarei por ora, mas talvez num momento posterior.
Todo esse "show off" de minha parte tem apenas um objetivo, cada tipo e gênero textual tem um público alvo e dessa forma ao selecionar um dos esquema apresentados, estará esperando um tipo de leitor específico. Vamos pegar como exemplo o conto, os contos são amplamente difundidos nos meios acadêmicos por deixarem grande margem de interpretação e por dependerem de grande experiência de vida e informações presente no próprio leitor, e por isso, não seria de se estranhar que no ensino fundamental grande parte dos jovens ali não o entendesse por completo, por outro lado, o romance tem um volume textual maior e pode se dar ao luxo de fornecer mais informações para o leitor, e dessa forma agradando mais aos leitores mais prematuros na arte de entender realmente o que está escrito. Claro, tudo isso é apenas teórico, não uma lei imutável, mas interferirá diretamente no tipo de leitor que você quer atingir.
Desta forma termino esse texto Expositivo enorme.
Até a próxima.
terça-feira, 15 de outubro de 2013
Dia do Professor
Existem pessoas diferentes em carreiras diferentes, mas todos tiveram uma similaridade, tiveram professores capazes e tenazes.
Dica, truques e cheats.
Para e se
escrever um conto ou ao se ler alguns contos, as vezes nos deparamos
com a seguinte sensação, começamos as conjecturas e de repente,
numa certa parte do texto (em geral no final), com um movimento que
compromete toda o nosso entendimento. Quando isso acontece, devemos
reler e testar novas teorias. Pode parecer trabalhoso ou estranho,
mas é preciso. Isso, porque, o autor utilizou o recurso da
prestidigitação em algum momento. E como isso ocorre? Mais simples
do que parece, o escritor é o mágico no palco, e ao longo de sua
narrativa ele nos chama a atenção e para sua mão esquerda, para no
distrair, enquanto opera o truque de verdade com sua mão direita nos
surpreendendo no fim do número. Dois ótimos contos que nos ilustra
bem o fato são: “Singularidades de uma rapariga loura” de Eça
de Queirós, e “Morta” de Maupassant,
que trazem uma grande reviravolta em seu desfecho, e que, quando
relidos vemos as pistas antes ignoradas para formar o texto real, que
estava na parte mais abaixo da obra lida pela primeira vez.
Indicação
O Mito de Criação
Por Antônio C Pereira
Thot, deus da criação das ciências, após criar todas, meteu-se a criar animais. Esse novo trabalho era muito mais divertido que o anterior, e mesmo tendo boa parte de seus projetos reprovados, jamais desistiu deste novo caminho. E após pensar, criou o mais adaptável dos animais. E saiu em disparada pelo deserto para mostrar a Thamus, o deus julgador e senhor de todas as coisas, sua mais perfeita obra.
Thot, deus da criação das ciências, após criar todas, meteu-se a criar animais. Esse novo trabalho era muito mais divertido que o anterior, e mesmo tendo boa parte de seus projetos reprovados, jamais desistiu deste novo caminho. E após pensar, criou o mais adaptável dos animais. E saiu em disparada pelo deserto para mostrar a Thamus, o deus julgador e senhor de todas as coisas, sua mais perfeita obra.
– Thamus,
meu amo e senhor, trago-lhe o que dominará a terra e os mares após
a partida dos homens para a morada eterna. Disse Thor, orgulhoso e
ofegante.
– Diga-me
Thot, Thamus sem animo respondeu. O que me traz desta vez?
– Veja,
no papiro estão todos o detalhes. A animação de Thot era visível.
– Hum,
mostrou interesse o regente, bico de pato e patas palmadas?
– Sim,
para que possa navegar sem problemas e comer sementes e pequenos
peixes.
– Corpo
de castor e cauda do mesmo animal?
– Desta
forma, além de forma hidrodinâmica perfeita, o animal estará
isolado termicamente, além permitir que habite tocas terrestres, em
vez de ninhos. O engenheiro já se mostrava temeroso por seus
esforços.
– O
ferrão é questionável, caro Thot.
– Nada
disso nobre Thamus, tem única e exclusivamente a função de defesa,
nada mais.
Fez-se
silêncio, o deus regente pensava profundamente em tudo o que ouvira,
e contemplava o papiro. Thot sentia-se embaraçado e nervoso pela
demora do julgamento de sua obra. Por fim, o deus maior disse:
– Caro
Thot, poderei eu aprovar teu trabalho, mas tenho uma ressalva sobre o ornitorrinco, disse
Thamus em seu trono, deixarei tal ser viver, o orni... ornit... ornitorrinco, desde que você retire
do projeto original apenas um item, o gorro com guizos.
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
Dica, truques e cheats
Desta vez, eu indico um autor brasileiro, que apesar de muito lido nas escolas é pouco apreciado. Talvez por sermos forçados a um contato prematuro com sub textos que ainda não entendemos claramente. Machado de Assis tem uma grande habilidade crítica, o que fez com que mesmo em sua época fosse lido por muitos e entendido por poucos. Sua sutileza nas ironias e metáforas é algo quase mágico, difícil de se ver em outros textos, e esse refinamento de dizer uma coisa para dizer outra é muito interessante a quem se candidata, tanto a revisar e estudar textos, quanto a escreve-los. Leia Machado tentando encontrar o que está abaixo da superfície e você se surpreenderá. E para facilitar o serviço, comece pelo "O Alienista", depois "Missa do Galo", e por fim "Três Tesouros" (todos disponíveis legalmente e gratuitamente na internet). A intenção não é assimilar a linguagem utilizada pelo escritor, e sim observar a sofisticação presente em seus ótimos contos, e com a prática, traze-la para os seus próprios trabalhos.
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
Afinal, qual tamanho deve ter o texto?
Isso é a dúvida que todas as pessoas que começam a escrever tem, e não apenas por ainda não ter experiência com a escrita literária, mas também pelo julgamento errado de que um bom escritor escreve alucinadamente. Um dos poucos escritores/poetas que se auto incluía nesta visão era Fernando Pessoa, mas com seu famoso verso "o poeta é um fingidor", já imaginamos que suas histórias de epifanias noturnas e livros escritos em poucos dias são na verdade um blefe ou uma brincadeira, que as vezes é levada a sério.
Retomando o título, o tamanho do texto vai variar de acordo com a complexidade geral do texto que é imaginado pelo autor, temos ótimos contos com três ou quatro páginas, e livros não tão brilhantes com 400 ou 500 páginas. Para saber ao certo o volume de texto o ideal é fazer uma boa reflexão sobre o que vai acontecer e o andamento dos fatos, enrolar de mais o leitor pode ser uma grande frustração para este, do mesmo modo, uma sucessão muito grande de ações em poucas palavras pode deixa-lo confuso, por isso o planejamento e a reflexão do tamanho, volume e ritmo é essencial.
Após terminado as escolhas, ganchos e acontecimentos, temos outro momento de decisão, quais, e quantos personagens entram em cena, como se envolvem no enredo e como surgem no mesmo. Vários autores como Eduardo Sphor e Lycia Barros, defendem que deve-se evitar um grande volume de personagens, por um motivo simples, mas que pode passar desapercebido, a profundidade dos mesmos. Quanto menos profundo for um protagonista ou coadjuvante, menos interessante se torna o texto, pois isso começa a quebrar as regras de verossimilhança residentes dentor do universo de SEU texto. Peguemos como exemplo o texto do escritor Edgar A. Poe, chamado "O diabo no campanário", neste curto conto, temos apenas um personagem central, que nem é uma pessoa e sim uma torre, e uma série de personagens laterais representados por estereótipos, para criar a população de uma cidade fictícia, e nem por isso o conto é simples de se ler, da mesma forma, Tolkien, com a saga do anel possui muitos personagens, mas cada um aparece para desencadear uma ação ou mudança e depois sia de cena, deixando espaço até mesmo para a imaginação do leitor completar as lacunas.
O real tamanho do texto deve ser o que lhe agrada escrever, não tenha o compromisso ou meta de escrever calhamaços, apenas escreva com algumas noções do que quer e como deve acontecer, se o roteiro e trama acabarem encerre e pense em outro, arrastar muito uma ideia já encerrada compromete a qualidade de seu trabalho, da mesma forma, não tenha pressa de acabar para começar outra coisa, dessa forma, quem ler o seus árduos frutos se sentira respeitado e instigado a continuar o tour pelo seu "mundo paralelo".
É isso por enquanto. Deixo algumas dicas legais para entender mais sobre esse e outros assuntos relacionados ao ato da escrita. São elas, o canal do Youtube "Papos Literários", e dois podcasts sobre literatura para informações extras, "NerdCast 215 profissão autor" , e "NerdCast 379 literatura fantástica brasileira".
Inté pessoas.
Retomando o título, o tamanho do texto vai variar de acordo com a complexidade geral do texto que é imaginado pelo autor, temos ótimos contos com três ou quatro páginas, e livros não tão brilhantes com 400 ou 500 páginas. Para saber ao certo o volume de texto o ideal é fazer uma boa reflexão sobre o que vai acontecer e o andamento dos fatos, enrolar de mais o leitor pode ser uma grande frustração para este, do mesmo modo, uma sucessão muito grande de ações em poucas palavras pode deixa-lo confuso, por isso o planejamento e a reflexão do tamanho, volume e ritmo é essencial.
Após terminado as escolhas, ganchos e acontecimentos, temos outro momento de decisão, quais, e quantos personagens entram em cena, como se envolvem no enredo e como surgem no mesmo. Vários autores como Eduardo Sphor e Lycia Barros, defendem que deve-se evitar um grande volume de personagens, por um motivo simples, mas que pode passar desapercebido, a profundidade dos mesmos. Quanto menos profundo for um protagonista ou coadjuvante, menos interessante se torna o texto, pois isso começa a quebrar as regras de verossimilhança residentes dentor do universo de SEU texto. Peguemos como exemplo o texto do escritor Edgar A. Poe, chamado "O diabo no campanário", neste curto conto, temos apenas um personagem central, que nem é uma pessoa e sim uma torre, e uma série de personagens laterais representados por estereótipos, para criar a população de uma cidade fictícia, e nem por isso o conto é simples de se ler, da mesma forma, Tolkien, com a saga do anel possui muitos personagens, mas cada um aparece para desencadear uma ação ou mudança e depois sia de cena, deixando espaço até mesmo para a imaginação do leitor completar as lacunas.
O real tamanho do texto deve ser o que lhe agrada escrever, não tenha o compromisso ou meta de escrever calhamaços, apenas escreva com algumas noções do que quer e como deve acontecer, se o roteiro e trama acabarem encerre e pense em outro, arrastar muito uma ideia já encerrada compromete a qualidade de seu trabalho, da mesma forma, não tenha pressa de acabar para começar outra coisa, dessa forma, quem ler o seus árduos frutos se sentira respeitado e instigado a continuar o tour pelo seu "mundo paralelo".
É isso por enquanto. Deixo algumas dicas legais para entender mais sobre esse e outros assuntos relacionados ao ato da escrita. São elas, o canal do Youtube "Papos Literários", e dois podcasts sobre literatura para informações extras, "NerdCast 215 profissão autor" , e "NerdCast 379 literatura fantástica brasileira".
Inté pessoas.
O Início do Fim
Por Antônio
C Pereira
Desculpe, o que eu dizia? Ah sim, faz muito tempo, tanto tempo que
mal me lembro de como tudo isso começou. A situação estava muito
ruim mesmo, já não havia mais esperanças para mim, eu já havia
sido julgado e condenado a morte, mesmo não havendo essa pena já
naquela época no Brasil. O crime foi tão brutal que não existia
outra forma de punição para mim, a única coisa que me restava era
esperar o dia e a hora de ser punido, mesmo que injustamente.
A esperança e a vontade de viver já haviam me abandonado a tanto
tempo que me limitava a contar os dias para o fim do sofrimento,
afinal, já não existia nada para mim neste mundo, era um morto
ainda em vida. Irônico não? Tantas pessoas morrendo ainda na flor
da idade e com tanto para produzir, e eu vivo apenas implorando pelo
fim de tudo. Já havia perdido minha liberdade, minha patente
militar, e a pessoa que mais amava neste mundo, minha irmã. Apesar
de todo este quadro desesperador para a pessoas normais, para mim era
questão de honra manter o resto de minha dignidade e honrar o pouco
que sobrou de meu legado, meu autocontrole em momentos extremos.
….
Desculpe, estava divagando de novo e pode ser por causa do vinho, e
não se preocupe com datas, pois no fim, elas não fazem mais
diferença com o passar dos anos. Mas deixe-me avançar um pouco a
história, pois fiquei mais de um ano preso ainda esperando pelo
cumprimento de minha sentença, o fato essencial destes
acontecimentos se deu algumas noites antes de minha execução,
quando um homem veio ver-me, sendo a única visita que recebi em todo
o período pós prisão. Ao perguntar seu nome, ele apenas se limitou
a pigarrear e responder que nomes não eram importantes e que os
fatos sim.
….
Claro que darei detalhes quando pertinente, não se preocupe, apenas
deixe-me continuar. Ele veio devagar e disse algo que me acordou para
a realidade uma segunda vez, um breve suspiro de vida em meses de
mortes contínuas, dia após dia. Ele falou que sabia pelo que estava
passando, que não só perdera a liberdade, mas como a paz e a maior
joia que poderia ter. Minha liberdade foi retirada pelo crime que me
acusaram, minha paz se foi por ter sido além de tudo, ainda acusado
de usar de magia negra, e por ter usado minha irmã para tal, e por
fim por ter a vida de Elisa ceifada. O meu ilustre visitante me
ofereceu não só a liberdade e uma nova vida, como também a
possibilidade de me vingar por tudo o que me foi tirado e por tudo
aquilo que sofri. Não, não acreditei em tudo logo no começo, mas,
me foi dado um tempo para pensar e analisar tudo o que me cercava e o
que me esperava, e julguei ser melhor tentar me arriscar numa
fantasia qualquer a morrer em poucos dias.
Aquele que me ajudaria estava encostado na parede do lado oposto do
corredor, fora da cela, e parecendo bem íntimo da desgraça humana,
ao pronunciar o aceite ao seu plano e suas condições, notei um leve
contentamento em sua face pálida e longilínea que desapareceu em
uma fração de segundos. Ele pôs-se mais próximo da grade para me
entregar uma pílula vermelha explicando o meu procedimento par sair
do cativeiro, deveria ingerir a substância que por sua vez me
levaria a um estado de catalepsia, um estado de morte artificial,
depois seria enterrado em uma cova rasa direto no chão frio e úmido
em caixão fino, do qual deveria sair com facilidade, e ali teria
acesso às informações e tudo o que fosse necessário para cumprir
meu destino e ganhar uma nova vida. Mas fui advertido do risco,
deveria entrar em estado de morte durante o dia, para que ao início
da madrugada pudesse sair de minha cova, um leve erro de calculo e o
sol por sobre a cova me mataria com sua força e majestade tropical.
….
Longe de mim estar seguro do que estava fazendo meu amigo, longe
disso, mas ao olhar em volta e perceber o inferno no qual estava e no
que ainda estava por vir, não existia uma real escolha, os dois
caminhos eram perigosos, mas o que me fora apresentado aquela noite
trazia um breve cintilar de esperança. Ingeri a pílula de acordo
com as instruções, e descobri que morrer não era algo tão bom ou
indolor como pregavam os religiosos, foi algo tão doloroso e
tenebroso que me arrependo de ter embarcado nesta trama doentia. Será
que tudo não passara de um plano a fim de me enganarem, ou uma
vingança torpe de algum louco. E enquanto a minha vida passava à
minha frente e todos os tipos de arrependimentos e pensamentos
amaldiçoadores percorriam minha linha de raciocínio, o chão
aproximou-se de meu campo de visão, a dor tornou-se insuportável e
por fim, o negro denso e o silencio reconfortante. Era o fim, ou era
o começo? Com certeza, era algo único.
….
Sim, admito que parece confuso, que é fantasioso e que mais parece
conversa de bêbado ou de louco, mas ao fim desta narrativa verá,
meu colega, que nada faço além de lhe contar o que está por baixo
do véu do que intitulado como a verdade. O silencio, o calor e a
ausência de tudo era perturbadoramente aconchegante, instintivamente
sabia onde estava, os sons abafados vinha de cima de onde eu estava,
e o ar era abafado, porém não era tão escasso o quanto imaginei, e
ali fiquei, parado a baixo do nível do solo, apenas desejando que
essa sensação durasse pela eternidade. Contudo, o próprio corpo
reclamou, depois de um longo período em uma mesma posição, e foi
preciso emergir e buscar o ar livre de novo. E lá estava ele, aquele
estranho visitante sentado, espectral e imaterial, com um leve
sorriso perguntou se eu havia gostado da minha morte artificial, pois
só isso justificaria minha demora em romper o caixão e vir a
superfície, apenas concordei com a cabeça e esperei ávido para
entrar no assunto central de toda esta loucura. Ao perceber isso ele
logo recuperou o ar distante e irreal, contando-me a quem eu deveria
retribuir todo este inferno prematuro em minha existência.
Não seria algo fácil, o alvo era um proeminente membro da
sociedade carioca da época e ao expressar a minha preocupação, me
foi respondido que o plano já estava em andamento e que eu minha
única preocupação seria aproveitar a janela de ação para
executar o homem, com a intenção de me tranquilizar ainda mais, meu
libertador justificou que não se tratava apenas de minha vingança,
mas também de um acerto de contas por sua parte. Segundo uma breve
explanação, ainda à beira da cova rasa, foi dito que este homem
também era um antigo desafeto e que o enganara a muito tempo atrás.
Amenidades ritualísticas completa, me foi passado onde deveria estar
e meu equipamento, uma arma de fogo de potente e um grande punhal, eu
deveria apunhalar o peito de tal homem de depois atirar em sua
cabeça, nada muito longe do que me foi ensinado no exército em
combate.
….
Vejo que enfim capturei sua atenção, sim aí vem o clímax. Eu
deveria aguardar em um hotel pulgueiro no centro da cidade e lá me
lavar e me preparar para executar o plano durante a próxima noite, e
foi o que fiz, limpei-me e adormeci, permaneci mergulhado num sono
profundo durante todo o dia, despertando ao alvorecer, o dia fora
muito quente e os pesadelos só me fizeram parecer que dormi num
deserto em pleno dia, houve tempo para mais um banho rápido antes de
vestir as roupas finas que me foram cedidas e posteriormente me
encaminhei para a taberna. Eu deveria esperar o boêmio chegar e me
manter atento, pois assim que ele se pusesse a encaminho de outro
estabelecimento eu deveria segui-lo e matá-lo em alguma viela
coberta pela noite densa, o clima sem luar me ajudaria a manter a
discrição. Ele chegou e o relógio já marcava mais de dez horas
finamente vestido e muito comunicativo, jovial até mesmo aparentado
passar dos quarenta, e nesta taberna nos mantivemos ainda por um
longo período, e somente as três horas da madrugada saímos de lá,
ele a frente e eu em seu encalço, nas sombras, mantendo a respiração
controlada e o coração em ritmo lente. Ao passarmos pela quinta
viela o homem da qual me mantinha a curta distância se virou, pude
ver de relance seus olhos felinos varrendo o beco. Era chegado a hora
da desforra.
Caminhei mais rápido para alcançá-lo e o surpreendi ainda na
metade do beco, com a investida o punhal cravou-lhe por entre as
costelas até a guarda, ele por sua vez gemeu e sussurrou alguns
palavrões, caiu de joelhos e por fim bateu com a cabeça no chão
imundo, olhei-o por alguns instantes e chequei se respirava, mas nada
me indicava que ainda estava vivo. Vingado virei-me para empreender a
fuga recolhendo apenas o punhal, a arma do crime. Mas antes que
pudesse avançar ao fim da viela fui detido por uma forte pancada que
me desfaleceu. Minhas últimas lembranças foram apenas fragmentos
desconexos, eu sendo erguido e ferido no pescoço, o rosto demoníaco
daquele que podia jurar ter matado, se embriagando com meu sangue que
vertia, e, por fim, o grito de dez leões que saia boca dele,
bradando que “mais uma vez Ceifador, você falhou, e este vampiro
viverá pela e para a eternidade”.
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Dicas, truques e cheats
Bom dia, boa tarde, boa noite. Para quem acha que um texto bem construído necessita de uma trama mirabolante, cenário rebuscado, e personagens detalhadamente explicados está enganado, as vezes menos é mais. No conto "O barril de Amontillado" temos justamente o oposto, Edgar Allan Poe constrói uma trama de grande tensão com apenas dois personagens presentes, um terceiro sendo citado de tempos em tempo, além de um cenário simples, porém fundamental para o desenrolar do clímax. Fica a dica, é melhor concentrar o foco, e manter uma trama, para não haver confusão.
terça-feira, 8 de outubro de 2013
Contos
Até onde o passado de uma família pode interferir no futuro de um indivíduo? Descubra isso, lendo este curto, porem interessante conto de nome "'Seu' Campanário". Divirtam-se
"Seu" Campanário
"Seu" Campanário
Uma ideia
Este blog tem o intuito de fazer uma breve promoção de alguns contos produzidos por mim. Posteriormente, e havendo demanda e contribuições, existe grande possibilidade de se tornar algo maior, com textos de outros autores. Também estará aberto a discussões sobre técnicas narrativas diversas para enriquecer os textos a serem produzidos. Então, mãos à obra.
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