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quinta-feira, 8 de maio de 2014

Uma vida, cinco anos, e quinze dias [PARTE II]

DIA CINCO

CINCO ANOS ANTES

– Por falta de provas, não podemos concluir, se o réu pegou a arma para cometer o crime que lhe foi imputado ou esta estava jogado atrás da porta como afirma a defesa. Fato, é que nunca teremos certeza de quem ou qual o motivo do assassinato da vítima, sra. Malaquias, portanto o júri aqui presente, assim como o juiz que vos fala, declara o acusado, Caio Alvares Malaquias inocente das acusações. Fim da sessão.
….
– Você foi inocentado Malaquias, mas devido ao grande apelo público, eu, no cargo de superintendente, não posso permitir que continue em seu cargo. Por tanto, seu novo posto a partir de amanhã, será a de escrivão do novo delegado a ser nomeado.
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QUATRO ANOS ANTES

– Você não gosta do cargo de escrivão não é Malaquias? Pode falar, apesar de estar sentado na sua cadeira, somos amigos, e eu não estou aqui porque quero. Vou cavar algo para você. Deixa com o Cabral aqui.
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– Meu amigo, saia de trás dessa cadeira, a partir de hoje será como nos velhos tempos, pega tudo la dentro e volte para as ruas. Não precisa agradecer, queria poder fazer mais, mas se cavar mais fundo, vai desmoronar em nós dois esse buraco.
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TRÊS ANOS ANTES

– Esse aí não é o bunda suja que dedou o coronel? Vamo dar um corretivo nele….
….
– Ele tá morto? Ah, tá respirando, bota aquela surpresinha no bolso dele, enquanto eu ligo pros homi…. vai da chabu, mané….
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– Essa é a última vez que converso com você Malaquias. Eu, como superintendente, já tô de saco cheio de falar com você. Vai lá e pede aposentadoria, é uma ordem, vai pescar e deixa todo o resto de lado. É UMA ORDEM!
– Se você não se aposentar, vão reabrir o antigo inquérito da morte da sua esposa, e com essa droga que estava no seu bolso, e esse laudo do psiquiatra que o Cabral fez sumir do processo, tu já era.
– Aqui atesta que tu é pinéu, todo mundo da polícia já sabe desse laudo, e só não dá mais merda, porque tem gente que te respeita. Sai por cima Malaquias. Vou repetir, é uma ordem
….

DOIS ANOS ANTES

– Fala meu amigo, é o Cabral. Sim, eu sei…. Não, o superintendente rodou, e tá uma zona isso aqui, eu cavei de novo, e se você ainda tiver afim, tenho a sua vaga de inspetor aqui guardada.
– Não, fica tranquilo, é sua, sem parceiro pra te pentelhar. Isso venha amanhã para a reintegração. Abraço.

    Era essa a rotina do inspetor Malaquias todas as noites, rever todos os pontos fatídicos e agradecer ao seu amigo de infância, Cabral, pela força. Apesar dele estar agora ocupando a cadeira que um dia o investigador ocupara, não havia rancor por isso, Cabral era um bom sujeito, e tocaria a DP com presteza e honestidade, se fosse ele Malaquias, a escolher, teria feito essa escolha sem pensar duas vezes. Tomou o diazepan e o sono veio como uma tempestade de verão, sem sonhos, sem remorsos.
    Quando acordou, foi um sobressalto, pois ouviu o próprio nome numa voz feminina vinda de algum canto escuro do quarto. Malaquias passou a mão na testa e tirou o suor frio que umedeceu toda a palma da sua mão direita, escorreu frio até o cotovelo, como se gelo, e assomou-se com o líquido que vertia da axila, até pingar e deixar marcas no lençol onde as gotas caíam. O relógio marcava 3:00 da madrugada, a hora do demônio, a hora das bruxas, a hora de toda a sorte de mal que rastejava sobre e sob a terra. Só havia uma alternativa, pegou o bloco de notas e um lápis no criado-mudo e desenhou a marca que vira no morto a algumas horas, e não sabia o porque se lembrara disso só agora. Vestiu a roupa e saiu com o intuito de ir a chefatura, remexer nos arquivos para ver se existia algo parecido, e se não achasse nada, passaria para os arquivos compartilhados com todo o Brasil, e se, ainda sim nada achasse, não ficaria irritado com o beco sem saída, só não queria ficar no quarto, ou melhor, em casa agora que despertou, de forma muito estranha. Na verdade, era a primeira vez que sentiu medo, o verdadeiro medo.

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