Muitas vezes, nos pegamos torcendo por um vilão, mesmo sabendo que ele vai ser derrotado ou ser redimido no final. Batemos palmas para cada frase enfática pronunciada por Lord Vader (Star Wars), concordamos com a cabeça a cada análise fatalista feita por Magneto (Universo Marvel), e reiteramos as falas do Cap. Nascimento (Tropa de Elite), com um "é isso aí". Mas, por que isso acontece? Não era para odiarmos esses caras?
Na maioria das vezes, detestamos os vilões, como o Rei Joffrey (Game of Thones), e Sarumam e Sauron (O Senhor dos Anéis). Mas as vezes o tiro sai pela culatra, pois o antagonista é bem construído e nos cativa logo de saída, e, a partir deste momento, temos a inclinação a aceitar e corroborar suas ambições e atos. Vale lembrar, que na maioria dos textos, filmes e séries, o "herói" só surge quando o vilão já está estabelecido, por um fator de lógica, se o herói já é poderoso, ele pode antecipar e derrotar o vilão antes deste alcançar o auge, e aí não temos o clímax da obra.
Como o antagonista nos é apresentado primeiro, e já completamente formado, nos apaixonamos por ele, enquanto o herói vem nos cativando cena a cena, capítulo a capítulo. Outro ponto que desperta empatia sobre essa figura caótica, é quando, antes de se dedicar ao mal, ele passou por alguma situação que passamos ou que poderíamos ter passado, com isso automaticamente, nos vinculamos ao personagem.
Sendo assim, podemos concluir que, o vilão pode ser um ótimo personagem, desde que tratado com carinho, e que ele deve ter um papel bem claro no texto, ele pode ser uma praga em pessoa e muito detestável como Joffrey, que foi construído para isso, ou envolvente como o Conde Drácula (Drácula 2000), criado para encantar e nos redimir, de certa forma.
segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
Jogo Honesto
Por Antônio
C Pereira
Num tempo em que o próprio tempo era jovem, o Ser Supremo,
entediado com o vazio de sua obra, criou tudo o que existe. Homens,
animais, plantas, as montanhas e os mares, as nuvens e o vento. Lorde
Lua e Lady Sol também foram idealizados para compor seu vasto mundo,
até onde a vista alcançava, e muito mais além. Mas, por sua
perfeição e poder, apenas duas outras entidades podiam ver e
interagir o Ele, seus nomes eram Morte e Eternidade, e ambos viveram
por incontáveis eras à sombra Daquele, como sua obra mais
excepcional.
Um dia, sem alarde, o Ser Supremos se cansou e partiu sem aviso,
deixando todo o seu trabalho a cargo de seus dois sucessores, ambos
deveriam zelar por tudo o que já existia, e também decidir o que
era necessário criar dali para frente. Apesar de possuírem poderes
iguais, seus ideais eram divergentes por quilômetros de distância.
Ainda não havia de constituído o a ideia do bem e do mal, do certo
ou do errado, por isso, nenhum deles era bom ou incorreto, apenas
acreditavam em perspectivas antagônicas.
Um degrau acima da divergência existia o respeito mútuo entres as
duas entidades, que permaneceu imutável até o tempo atingir a
maturidade. Como já dito, a Morte e a Eternidade possuíam poderes
similares, exceto por um detalhe, a primeira com sua face de criança
sobre o pesado capuz preto podia perceber os desvios possíveis do
destino e não a linha principal, enquanto o segundo, com sua
aparência venerável e sábia de um idoso só conseguia consultar a
linha mais provável do devir. E foi por isso que se deu o cisma
entre eles.
A Morte, ao perceber os movimentos do destino previu que o homem
logo se tornaria uma hedionda e incontrolável besta, a Eternidade,
por sua vez, via o homem como aquele que governaria a obra após
Morte e ele próprio irem encontra o seu criador, quando fossem
chamados. Essa discussão levou gerações e gerações, até o senso
de urgência da Morte soar mais alto que sua razão, e propôs ao seu
antagonista, que resolvessem o futuro da humanidade em um jogo franco
e direto. Eternidade, por sua vez, com um grande aperto no peito e
sem nome para essa emoção aceitou, desde que ele sugerisse o jogo.
– Resolveremos este impasse de uma vez por todas. E que seja numa
franca em uma única partida, disse a Morte, com uma voz profunda,
que destoava de sua aparência infantil.
– Que seja, desde que eu selecione o modo de resolvê-lo. Respondeu
a Eternidade, com a serenidade, que não possuía naquele momento.
– Concordo, comecemos sem demoras. O retardo deste entrave não
beneficia nenhum de nós dois.
– Já tenho em mente algo que irá satisfazer a ambos, e não dará
margem a reclamações posteriores. Completou o venerável.
– Diga, deixe os pormenores de lado por hora.
– Jogaremos uma partida de xadrez, a representação mais ordenada
do caos, o que representa não só nós dois, como o fardo que
aguarda toda a raça humana.
– Sim, sente-se e começaremos, para nós não existe os anos ou
estações, mas para aqueles que estamos julgando, não existe tal
benção.
Sentaram-se e compuseram o tabuleiro, a Morte com as peças negras,
e a Eternidade com as peças brancas. E se sucederam dos movimentos,
um após o outro, peça após peças. Torres, cavalos, peões e
bispos, deslizavam para esquerda e para a direita, eram tomados e
retirados. O jogo prosseguia e recuava, o campo de batalha
quadriculado se tornava cada vez menos povoado com a progressão da
partida.
Ambos jogaram de forma honesta e justa, o sol se pôs por tantas
vezes que pararam de contar, mares secaram e oceanos surgiram. O
homem dominou a terra e os mares, enquanto o jogo desenrolava-se. Os
empates foram inevitáveis e incontáveis até que mais uma vez
deliberaram. A aposta iria muito além da decisão do destino de uma
espécie, a Eternidade deveria apostar também o seu mais precioso
dom, a eternidade em si, a Morte, por sua vez, apostaria a sua
finitude para demonstrar a sua boa fé e boa vontade.
Aceito o novo trato começou a rodada derradeira, não havia mais
tempo para blefes ou distrações, era preciso achar uma brecha ou
cavar uma se necessário. Um espírito competitivo nasceu ao longo
destas partidas. O desejo de superar todas as artimanhas e
estratégias era agora maior do que qualquer outra coisa. Morte e
Eternidade tinham a necessidade de superar seu opositor. Até o
momento decisivo, a Eternidade havia encurralado o rei preto e
removido os dois cavalos da mesma cor, a Morte não tinha uma saída
viável, sua derrota era certa. Em um momento de nervosismo, ela
esbarrou em sua foice que, desequilibrou-se e foi ao chão,
Eternidade sobressaltou-se e ergueu seu corpo da cadeira para não
deixar a surpresa transparecer, e Morte, num completo desatino moveu
as peças apenas uma casa para o lado. O que imperava no momento era
apenas o espírito combativo, a razão abandonara a disputa quando a
aposta aumentara.
Eternidade ao sentar não percebeu a mudança de configuração das
peças e Morte fez a derradeira movimentação. Tomou o rei branco e
declarou:
– Cheque Mate.
–Como?
– Fim de jogo.
– Meu desatino me deixou desatento? Disse Eternidade perplexo.
– Creio que a vontade de vitória o cegou irmão, concluiu a Morte,
tentando parecer o mais natural possível.
– Agora, façamos o pagamento pela tua derrota.
– O prêmio você merece Morte, mas não de todo. Sei que
trapaceou, mas fui tolo em não perceber a tempo, toma o teu
pagamento.
Em um movimento brusco, Eternidade tiro o broche que sustinha a sua
túnica e a atirou no chão. A força foi tamanha que o rubi se
partiu, metade se manteve presa à estrutura dourada do broche, a
outra metade se transformou em uma chuva rubra que caiu por todo o
globo. Seguido da última frase de Eternidade:
– Por tua meia vitória terá a metade dos despojos, e os homens,
por quem tanto anseia tomar a vida, terá a outra metade. Enquanto
houver o sangue rubro nas veias, tu ó Morte, não os poderá tocar.
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